Friday, October 2, 2009

MORREU E DEIXOU MUITA SAUDADE

E sabado. Meu corpo desperta sozinho por volta das nove da manha. Estico meus bracos e pernas e rolo para o outro lado da cama. Tom (meu namorado, futuro marido) havia saido bem cedo. Ele e construtor e estava trabalhando em um projeto do outro lado da cidade.
Quarto escuro, somente uma faixa estreita da luz do sol atravessa indiscretamente pela cortina e invade minha privacidade. Ignoro os apelos do sol, me aconchego ao conforto dos lencoes macios cheirando a jasmim. O mundo la fora grita meu nome, me sacode.
Ouco vozes misturadas ao ruido estridente dos motores dos carros. Uma parede fina de drywall (papel e madeira) separa o quarto da lavenderia coletiva do edificio e nao consegue abafar o turbilhao e o trepidar frenetico das maquinas de lavar e secar roupas.
OK! Falo em voz alta. Voces venceram! Prometo que muito em breve terei minha casinha com arvore e rede no quintal, bouganvillia, margaridas, girassois, passarinhos, borboletas e vizinhos o mais distante possivel.
Resignadamente me levanto e preguicosamente me arrasto ate a cozinha. Enquanto preparo o café instantaneo, organizo mentalmente a agenda do dia: As 11:00 encontro com uma amiga, super-mercado, lavar roupa, acertar detalhes que faltam para o casamento. Casamento! Meu pensamento se detem neste topico.
Café esta pronto. Sento-me a mesa e saboreio o cafe preto, quente e amargo. Tom e eu vamos nos casar em menos de dois meses e ainda faltam acertar milhoes de detalhes.
O sentido de urgencia misturado a cafeina acelera meus movimentos. Rapidamente me levanto, tomo uma ducha quente como sempre e pe na areia.
Droga! Uma mistura de raiva e frustracao enche meu peito e dilatam minhas veias.
Tom foi trabalhar de carona com o socio, deixou seu carro estacionado atras do meu e carregou a chave. Ou seja: Estou presa, imobilizada dentro deste apartamento. Praticamente, dentro de quatro paredes. Sem carro nada feito. Nao vou a lugar algum.
Tentando recuperar a calma, respiro fundo, me atiro descuidadamente na poltrona da sala enfrente a janela.
Distraio meus pensamentos e ate me divirto olhando o jardim do lado de fora. Os gatinhos passeam e espreguicam-se ao sol. As flores estao lindas e a grama verde como nunca.
O telephone toca. Minha mae do outro lado. Coincidencia. Estava mesmo pensando em telefonar para ela.
A voz da minha mae esta calma e serena:
- Filha, o papai..
Estas tres palavras ditas do outro lado da linha, a sete mil e tantos kilometros de distancia, foram o suficiente para eu entender que a voz do meu coracao ou da minha intuicao dizia que algo muito pesado estaria para cair sobre mim.
Minha mae continua: - O papai faleceu, ele se foi.
19 de agosto de 1999 meu pai faleceu aos 75 anos, 15 dias depois de seu aniversario.
O sol brilhava la fora mas fazia tanto frio naquele momento, meu mundo desabou, o universo todo caiu com toda a forca sobre mim, a terra se abriu.
Chorando desconsoladamente, como munca havia chorado antes, solucando e tentando falar ao mesmo tempo, procurava em vao entender a dura e cruel realidade da vida.
Enquanto tentava digerir o gosto amargo da sua partida brusca e sem direito a um adeus, recapitulava fracoes da sua existencia ligadas a minha historia.
A primeira e nitida lembranca da minha infancia junto ao papai e da epoca em que eu tinha talvez tres anos de idade.
Papai era amante da musica. Ele me introduziu aos grandes e imortais compositores e a boa musica.   Lembro do meu pai sentado no chao, com os ouvidos grudados ao alto-falante da antiga“vitrola”. Movel grande de madeira lustrosa e clara. O som vibrava estridentemente e enchia cada canto daquela sala espacosa e vazia. Todos em casa ouviamos o som dos Demonios da Garoa, Charles Aznavour, musicas sacras corais, musicas classicas e instrumentais, Edit Piaf, Willie Nelson, Frank Sinatra, Rita Pavone, Domenico Modugno, Ray Charles, Ray Connif, Mirrele Matieu, Louis Amstrong e muitos outros.
Eu ficava sempre atenta esperando a hora que o papai abrisse “a vitrola” e colocasse o LP para girar. Nao tinha preferencia quanto a musica que faria vibrar os alto-falantes. Qualquer que fosse a escolha do dia, ou do momento me fazia feliz. Lembro nitidamente que a melodia, ritmo e poesia das musicas que papai ouvia me traziam conforto e alegria. Ate hoje a musica me absorve, fala no mais intimo do meu ser, envolve meu corpo e alma como um cobertor aveludado e macio.
Assim como aprendi a gostar e apreciar musica, tambem desenvolvi um gosto muito agucado pelo sorvete e sobremesas em geral. Todos os dias tinhamos que ter um docinho depois das refeicoes. Papai se sentava a mesa e antes da a primeira garfada, perguntava a minha mae: Qual sera a sobremesa? - A pergunta acompanhava o mesmo sorriso de uma crianca marota.
A sobremesa era um evento especial e festivo. Quando o prato era posto no centro da mesa, aplaudiamos com entusiasmo, seguindo a liderenca e o exemplo do papai: - Oba!!! Hummmmmmm e vagarosamente deliciavamos ate a ultima migalha do manjar.
Uma das muitas pequenas coisas que trazem a memoria do meu pai e sorvete. Especialmente o de milho verde e o de abacate. Papai conhecia todas as melhores sorveterias das cidades onde morava ou visitava. Era muito comum que ele indicara a soveteria “tal” como o ponto principal ou turistico da cidade: -”O melhor sorvete do mundo”! Frase favorita que ficou na historia da nossa familia.
Papai era um observador intuitivo das pessoas e lugares, alem de ser um otimo ouvinte. Ele sempre dizia que sao poucas as pessoas que sabem ouvir. Com todas essas abilidades, ele era um otimo escritor e contador de historias. Gostava de narrar anedotas veridicas de fatos que envolviam geralmente colegas pastores ou membros das igrejas. Papai ria tanto das suas proprias piadas que mal conseguia chegar ao final da historia. Por mais que o conto nao tivesse graca alguma, ninguem consegui ficar serio. O riso do papai era epidemicamente contagiante.
Desde muito pequena, domingo apos domingo, religiosamente ia a igreja. Filha de pastor tinha que dar o exemplo. Nao era uma opcao, era obrigacao. Sentada nos bancos duros de madeira, ao lado de minha mae, ouvia os sermoes do meu pai. Recostava a cabeca no colo de mamae e adormecia serenamente enquanto papai ministrava o sermao. De tanto em tanto, me despertava com o som das musicas de louvor cantadas pela congressao ou o coral.
Com o passar do tempo, comecei a entender e a apreciar as mensagens e ja nao dormia durante os cultos. Sentia orgulho de ver meu pai no pulpito, ministrando e sendo ouvido atentamente por tantas pessoas. Ele era um grande orador, era sabio, extremamente carismatico e culto. Tinha seu proprio estilo. Voz suave, vocabulario simples e didatico, arrancava risos e lagrimas dos ouvintes.
Lembro muito de um dos seus sermoes entitulado:” …Foi-se sem deixar de si saudades”….
Baseado no livro da Biblia - II Corinthias 21:20. Refere-se a vida do rei Jeorao, que reinou 8 anos em Jerusalem. Esse rei foi tao ruim, tao mal que morreu sem deixar saudades.
O desafio da mensagem e que precisamos usar as oportunidades, habilidades, motivacao, virtudes e potencial que Deus nos da para criar e fazer o bem porque assim quando chegar nosso final iremos deixar saudades nos coracoes dos que ficam.
Papai deixou muita saudade. Ele viveu plenamente aquilo que pregava e ensinava.
Quando ele se foi, comecei a mentalizar, a pensar mais nao so na vida dele, na sua historia e nos seus ensinamentos que foram tantos. Me tornei mais consciente e vigilante da minha propria existencia.
Nao foi possivel ir ao seu funeral e enterro. Nao tive a oportunidade de dar-lhe um abraco um beijo, um adeus. Ficou faltando este capitulo para finalizar na minha mente o final da vida preciosa do meu pai. Por este motivo, me recusei a visitar seu tumulo quando voltei ao Brasil depois da sua morte.
Na minha lembranca, permanece vivo o quadro alegre do nosso ultimo Natal ano de 1999 na cidade de Sao Pedro, onde ele e minha mae moravam. Recordo seu sorriso alegre, as piadas e a felicidade que nao conseguia dissimular por ter todos os filhos, genros e netos juntos a mesa trocando presentes de amigo secreto, comendo a ceia de Natal, peru com pessego em calda e o delicioso e esperado PAVE DE DOCE DE LEITE.

Papai viveu e deixou de si muita saudade.

Tuesday, August 18, 2009

SER MAE

Desejo forte de nutrir, cuidar, acalentar, brincar, proteger, acariciar, mimar, ninar. Sonho de inspirar, criar, fazer a diferenca, marcar presenca, construir, re-nascer, eternizar.
Instinto e sentimento profundo que nasce com a gente, flui naturalmente, floresce e desabrocha com o tempo.
Quando eu era uma menina, brincava de bonecas, sem saber ja treinava e imitava ser mae.
Ganhei minha primeira boneca aos dois anos de idade. Era enorme! Quase maior do que eu, de porcelana, cabelos castanhos cacheados, olhos redondos cor de mel que abriam e fechavam como se fossem de verdade. Usava um vestido branco de lezie, meias da mesma cor e sapatinhos pretos de verniz. Minha mae me advertia para que tomasse muito cuidado com a boneca: Ela e de louca e muito fragil, se nao cuidar direitinho, pode cair e quebrar.
Nao me lembro de ter escolhido um nome para a boneca, mas lembro perfeitamente do cuidado e carinho com que a segurava em meus bracos.
Vinte e dois anos mais tarde, o sonho de ser mae, se torna realidade. Meu marido e eu de maos dadas caminhando pela Avenida Angelica em Sao Paulo, depois de buscar o resultado do exame de gravidez no Laboratorio Fleury, nao podiamos conter a alegria. Nosso desejo era gritar e anunciar ao mundo todo e ate aos desconhecidos que passavam pela rua. Riamos risos descontrolados, mistura de alegria, emocao e de medo. O papel do laboratorio continuava preso em minha mao. O segurava firmemente. Nao conseguia solta-lo e guarda-lo em minha bolsa. Precisava certificar-me a cada minuto, de que o resultado ainda estava la, escrito em letras maiusculas inconfundiveis: POSITIVO.
Sera que estou sonhando? Me perguntava e ao mesmo tempo respondia a mim mesma tentando me convencer. Nao. Nao estou sonhando. E realidade. Estou gravida de verdade. Como pode acontecer uma coisa dessas comigo? Gerar um ser e um bebe crescer dentro da minha barriga? O mesmo acontece com tantas mulheres mas eu? Sera que esta gravidez e a prova de que Deus existe e que Ele ainda confia em mim? Sera que serei capaz de ser mae, de cuidar de uma crianca? Nao, acho que nao. Tenho medo de falhar, de fazer a crianca sofrer e chorar.
Nove meses maravilhosos se passaram e Deus me concedeu o privilegio de ser o instrumento do maior milagre da vida.
Nasceu meu primeiro bebe, uma bonequinha perfeita, de verdade, de carne osso e alma. A embalava em meus bracos bem junto do meu corpo e sentia o palpitar do coracaozinho que agora separado do meu, pulsava sozinho. Incansavelmente passava horas olhando cada movimento, cada suspiro, cada milimetro daquele corpinho fragil. Dificil assimilar que era minha filha, que iria para casa comigo e que a partir de entao, faria parte da minha vida para sempre. O primeiro raminho da minha arvore da vida.
E o amor passou a ter outra dimensao, outro sentido. Amor inexplicavelmente forte e fora de proporcao, incomparavelmente sem medidas, infinito, incondicional e eterno.

Friday, August 14, 2009

PRIMEIRO TRABALHO NA AMERICA

Aos 35 anos, recem-chegada a America, inexperiente e cheia de ilusoes e muita ma informacao, saio em busca do meu primeiro emprego em Los Angeles - CA

Agencia de empregos domesticos me encaminha a uma entrevista para preencher uma posicao de Nanny. Peculiaridade desta vaga e que o bebe ainda esta dentro do ventre materno. Sarah, 42 anos, gravida de 7 meses espera seu primeiro filho.
Os requisitos para a vaga: falar ingles, possuir carro proprio, carteira de motorista, ter experiencia com bebe, alem de ter boa aparencia.
La vou eu dirigindo meu modesto carrinho azul e arriscando o ingles quebrado apesar de muitos anos de estudo e dinheiro investido em escolas e cursos de ingles no Brasil.
O dia esta lindissimo! E primavera em Los Angeles. Cruzo bairros nobres da cidade enquanto admiro a beleza das casas e seus jardins impecaveis. Um verdadeiro festival de flores e cores.
Confiro o endereco e estaciono a porta de um sobrado suntuoso. Toco a campainha e espero anciosa o momento de conhecer meus futuros patroes. Uma mulher magra apesar da gravidez avancada, alta, de cabelos ruivos e ralos, pele de um branco leitoso e olhos azuis abre a porta e se apresenta. Sarah e eu nos dirigimos a sala de estar, sentamos confortavelmente no sofa branco como duas velhas amigas e ali, descontraidamente tratamos dos detalhes do trabalho. A entrevista foi rapida e positiva. Acertado o salario de US$ 250,00 por semana, "live-in", ou seja: dormir no trabalho de segunda a sexta-feira.
Inicialmente, minhas funcoes seriam lavar roupa, limpar a casa, fazer compras, preparar o cafe da manha para Sarah e servi-lo na cama em uma bandeija todas as manhas, dirigir um belissimo Cadillac azul para fazer as compras e levar Sarah as consultas, shoppings e encontros com amigas. Depois de algumas semanas, como estava dando conta direitinho do recado, as tarefas aumentam. Patrao em toda parte do mundo e igual. Devagarinho outros trabalhinhos extras sao incorporados a minha rotina diaria: fazer bainha nas roupas, pregar botao, passar roupa, preparar o jantar, plantar flores. Incrivel! Nem eu mesma sabia que era tao prendada e que tinha tantas aptidoes domesticas.
A suite da empregada, fica no andar de cima, perto do quarto do casal e acompanha a decoracao requintada do resto da casa. Equipada com todos os eletronicos indispensaveis: televisao, aparelho de som, radio-relogio. Banheira de marmore branco, para mergulhar meu corpo cansado depois de um longo dia de trabalho. A cama e grande assim como as dos filmes, cheia de almofadas, edredon de pena de ganco e travesseiros macios onde adormecia e sonhava com meu principe encantado montado em um cavalo branco.
Apos alguns dias apenas, descobri que trabalho live-in e o mesmo que pagar sentenca em uma penitenciaria de luxo.
Foi meu primeiro contato intimo com a cultura e a realidade de uma familia americana. Tambem foi o comeco do meu desencanto.
Limpar casa ate que nao e trabalho dificil. Aqui na America, faxina e na base do spray e um paninho. Complicado mesmo e lidar com os personagens, as manias, as neuras.
O dia comeca levando o cafe na cama para Sarah. O cardapio e simples. Todos os dia o mesmo ritual. Uma das caracteristicas do americano em geral, e que eles sao previsiveis, repetitivos, nao se cansam da monotonia. Contentar o paladar "requintado" da Sarah e missao impossivel apesar da simplicidade do menu: 2 fatias de torrada com geleia, uma taca de cha sem acucar, um ovo quente e uma fruta. E possivel errar? Sim. Por mais que prestasse atencao, nunca acertava na primeira. O pao ficava ou muito branco ou muito torrado e o ovo ou muito mole ou muito duro.
Subia e descia as escadas equilibrando a bandeija na mao, varias vezes ate acertar o ponto da torrada e do ovo.
Apos a agonia do cafe da manha, outra tortura era limpar e lustrar os espelhos dos banheiros. A inspeccao era meticulosa: contra a luz do sol, com a luz do sol, luz apagada, luz acesa, em todos os angulos. Um respingo, uma marquinha branca de pasta de dentes por menor que fosse, uma digital, um fiapo era motivo para eu ouvir meu nome aos gritos. " Olha ali, esta vendo aquele pontinho la encima no lado direito?" Sim, claro.... que coisa.... mas pode deixar que vou lustrar e o espelho vai ficar um brinco. Respondo sorrindo por fora e gritando de odio por dentro. Afinal de contas, patrao, maluco e cliente tem sempre razao.
Por incompatibilidade de culturas e a necessidade de preservar minha saude mental, pedi demissao antes do nascimento do bebe.
Foram dois longos meses de aprendizado e muita experiencia. Aprendi a ter auto-controle e sorrir quando na verdade quero gritar e xingar. (Muitas vezes ainda tenho recaidas). Aprendi que o luxo e o egocentrismo nao e importante e sim a liberdade individual e o bem-estar pessoal. Aprendi a buscar forcas e me erguer quando estou quebrantada e enfraquecida. Paguei muitos pecados tambem!

Saturday, August 8, 2009

50 ANOS

Quando completei 50 anos, escrevi este poema:

Doce lembraca....
do cheiro de terra e da grama molhada da chuva......do castelo de areia, da embolada da onda forte do mar e de catar conchinha na praia.
Doce lembranca dos banhos gelados de chuva e de andar na enxurrada de pe no chao.
Doce lembranca do arco-iris e das nuvens fofinhas formando figuras no ceu.
O tombo de bicicleta, joelho esfolado tambem me trazem doces lembrancas e arrancam sorrisos no meu coracao.
Doce lembranca de brincar a noite na rua......debaixo da luz das estrelas e do pisca-pisca dos vagalumes.
Ah! O algodao doce, o picole de groselha e o doce da padaria....doces lembrancas que trazem de volta a simplicidade e a genuidade da minha infancia.

Elda - 11/12/2004

50 anos de vida plena. Sonhos, derrotas e sucessos, tropecos, lagrimas e risos, amores e desamores mas somando foram 50 anos de muito mais felicidade do que tristezas, apesar da furia das ondas do tempo.

Saturday, June 6, 2009

NAO PAGAR MULTA DA CADEIA

Nao fui ao trabalho hoje para resolver varios assuntos pessoais. Porem, nao fiz nada do que havia planejado. Fui surpreendida por um imprevisto que ate agora me parece pesadelo.

Estava indo aos meus afazeres, dirigindo ainda perto de casa, quando notei que uma viatura da policia estava me seguindo. Diminui a velocidade ate que finalmente as luzes da viatura comecaram a piscar escandalozamente. Parei em um estacionamento de um centrinho comercial, o policial se aproximou a minha janela para informar educadamente que eu estava acima da velocidade permitida. Pediu meus documentos e como de praxe, foi ao computador conferir meus dados. Ate ai, tudo normal dentro do esperado. Como ja conheco a rotina, me mantive tranquila aguardando a multa. Pensava somente nos $$$$ que iria custar a brincadeira.
Depois de uns 5 minutos, o policial se aproxima novamente a minha janela e diz: Voce sabe que voce tem uma ordem de prisao?
No moento, pensei que havia ouvido mal, que o policial estivesse me confundindo, ou que estivesse de brincadeira. Mas o olhar penetrate e a voz grave, indicavam que o assunto era comigo e que era serio. Gelei, minhas pernas amoleceram, meu coracao disparou. Como? Eu? O senhor deve estar enganado. Nunca cometi crime para ter uma ordem de prisao. O policial olhando bem dentro dos meus olhos diz: E melhor voce falar a verdade para nao piorar as coisas para o seu lado.
Pronto! Ja nao tinha mais duvidas de que estava envolvida em algum problema bem serio. Mil pensamentos corriam aceleradamente pela minha cabeca.
Uma outra viatura aparece no local. O policial pede para eu sair do carro e fecha-lo porque eu teria que ser levada a delegacia. Cumprindo ordens, deixei minha bolsa dentro do carro e levei somente as chaves e o celular.
Naquele momento, ja nao sentia meu corpo. Era como se minha alma tivesse despegado e sobrevoasse meu corpo. Uma sensacao de vazio indescritivel tomou conta de mim.
Calmamente, de cabeca baixa, sem olhar para os lados me dirigi a viatura. Nao tinha certeza se iria no banco da frente ou no de tras como passageira. De qualquer forma seria desagradavel e humilhante. O policial pede para eu virar de costas porque ele teria que me algemar.
Algemar? Porque? Nao vou fugir, nem sei porque estou sendo presa, sou uma cidada correta, nunca cometi um crime, nao sou violenta, nao sou agressiva, nao matei, nao roubei, nao tenho arma.
Sao as regras. Toda as pessoa com ordem de prisao, precisam ser algemadas ao serem transportada.
Ate entao eu desconhecia completamente o motivo da ordem de prissao. O policial disse que talvez fosse uma multa que levei em 2005 e que ainda estava pendente de pagamento.
Jamais recebi um comunicado da tal multa. Alias, telefonei ao Departamento de Transito, assim como tambem a policia para saber o valor da infracao para que eu pudesse providenciar o pagamento. Porem, a informacao era de que nao constava nenhum registro de multa nos sitemas. Diante disto, descansei, achando que talvez o policial tivesse esquecido de processa-la. Santa inocencia a minha!
Quando estava sendo algemada, varios sentimentos dominavam as minhas entranhas: vergonha como nunca havia sentido antes em toda a minha vida, humilhacao, solidao, medo, duvida, incerteza, desconfianca. Pensava nos meus filhos, no Pedrinho, meu netinho inocente que acha o maximo o carro de policia, se encanta com a sirene. Pensava nos meus pais que me ensinaram o respeito, a honestidade o amor ao proximo e sobretudo a fe e o amor a Deus. Pensava no meu marido, no respeito e na admiracao que ele sente por mim.
Quando chegamos a delegacia, uma policial me revistou para se assegurar que eu nao portava armas. Mais uma vez um procedimento padrao. Nao importa se a pessoa matou , estuprou, assaltou um banco de maos armadas, furtiou um pirulito no armazem ou nao pagou uma multa de transito. O tratamento e o mesmo: Padrao e uniforme como e tudo aqui na terra do tio Sam.
A policial fechou ruidosamente as grades e trancou a cela. Alguns minutos depois um outro policial aparece para fazer algumas perguntas de rotina tais como: toma medicamento? Tem algum problema de saude? Naquele momento comecei a me apavorar ainda mais porque pelo que entendo, e a burocracia do processo de admissao. Depois seguiria a foto com numero, impressao digital e o uniforme alaranjado.
O policial teve a ousadia de perguntar se eu tinha alguma duvida: Aproveitei a oportunidade e afirmei que SIM: Preciso saber o motivo de estar aqui. A resposta foi que iria investigar e me daria uma resposta em uns 25 interminaveis minutos.
Menos mal que eu estava sozinha na cela. Tentei relaxar, as lagrimas rolavam e eu so pedia a Deus para que o pesadelo acabasse logo e que tivesse um final feliz.
Realmente, meia hora depois o mesmo policial que tinha me dado "carona" para a delegacia, abriu a porta e me disse para sair pois ele tinha conseguido me liberar sem terem me registrado. Se tivesse sido admitida como manda a lei, eu ficaria fichada, com antecedentes policiais e teria que ser transferida para uma penitenciaria barra pesada. Ficaria presa ate ter uma audiencia com o juiz, pagar a multa e sabese la o que mais.
O policial me transportou ate o local onde estava meu carro. Evidentemente ele precisou me algemar novamente e mais uma vez se explicou: sao os regulamentos que eu tenho que cumprir. Gentilmente, me garantiu que iria colocar a algema bem folgadinha pra ter certeza de que nao iria me machucar....(que amorzinho) me comprou uma garrafinha de agua gelada e foi puxando um papo amigavel ate o destino. Explicou que o motivo da ordem de prisao era a tal multa que nao tinha sido paga e que eu deveria com urgencia, me apresentar ao forum para resolver a pendencia.
Nem sei como consegui dirigir ate chegar em casa. Eu estava traumatizada, desgastada e sem energias. Cheguei em casa, meu porto seguro. Tranquei a porta e ali fiquei quietinha, com medo do mundo la fora.

DOMINGO NA PRAIA DE ZUMA


Maridao e eu acordamos determinados e animadissimos a passar o dia fazendo nada alem de descansar em contato com a natureza.
E fundamental, para preservar a saude fisica e mental, desfrutar um dia inteiro descansando e recarregando as energies consumidas em afazeres domesticos, trabalho e as preocupacoes normais so pelo fato de estarmos vivos.

E desintoxicante, fazer nada alem de deitar na areia quente, respirar o ar “quase” puro, ouvir o barulho do mar, dos passaros e observar o ritmo descompassado das ondas do mar.

Saimos bem cedo de casa para aproveitar ao maximo as horas de sol, evitar transito congestionado e problemas para encontrar vaga para o carro. Pagar para estacionar na praia e totalmente brochante. Nao combina.

Tudo saiu conforme planejamos: o dia promete sol, a “freeway” esta realmente" free" e facilmente encontramos lugar para estacionar gratuitamente.

Zuma Beach fica perto da famosa e glamourosa Malibu que na verdade nao e tao glamurosa quanto imaginava. A fama toda deve ser pelo fato de ter sido cenario de filmes e habitat de estrelas e astros famosos de Hollywood.

Zuma e uma praia tranquila, e de areia ampla.
Quanto a agua, nao tenho muito a comentar a nao ser o fato de que as aguas do oceano Pacifico, para mim, so possuem o atrativo visual. Nao atrevo molhar partes do meu corpo acima do tornozelo. So o pezinho mesmo. Se o dia for realmente de intenso calor, talves arrisque um mergulho mas mesmo assim, so depois de muita concentracao e algumas horas de preparo psicologico.
Termometro preciso sao as criancas. Hoje o dia esta quente, o sol arde e queima a pele porem nao vejo crianca pulando ondinha ou rolando na areia molhada no rasinho do mar. Sou seria tropical. Hoje a sereia nao sai da areia e do sol.

E revigorante perceber e sentir o silencio. O som da natureza me emociona e me transporta para outros mundos e para dentro de mim. Sinto a presenca e a caricia de Deus quando ouco as ondas do mar, a brisa, o vento soprando e o canto dos passaros.
Os pelicanos famintos, marcham e se aglomeram pelas praias da California. Sao aves astutas, nao se apresentam e nao pedem licenca na hora de abocanhar um pedaco do seu sanduiche ou fisgar a salsicha do cachorro-quente dexando voce de boca aberta e com pao seco na mao.

Apesar de toda a beleza, da paz, comodidade que encontro nas praias da Calfornia, sinto muitas saudades da agua de coco geladinha, picole, milho cozido, coxinha, kibe, peixinho frito, espetinho de camarao, cervejinha gelada.
Cervejinha?Aqui nem pensar. E um sacrilegio e a multa e astronomica. Policiais desfilam pelas prais controlando a ordem. Digo desfilam porque esses polciais que fazem este trabalho arduo devem ser escolhidos a dedo: corpos atleticos, bronzeados, altos, aparencia pra la de saudavel.
Mesmo assim, com todos os pros e os contras, prefiro as nossas praias brasileiras cheias de emocaoe e banhadas de agua morna acompanhadas de cervejinha gelada com espetinho de camarao.

AMANHA COMECO A DIETA

Seria interessante formar um grupo de apoio virtual. Pessoas que como eu, tentam mil dietas, prometem comecar uma rotina saudavel a partir de amanha, ou segunda-feira sem falta!
Nao cumprimos o que falamos, nos enganamos e ninguem nos leva a serio.
E incrivel como a gente se acostuma com a transformacao do corpo . Claro, a gordura vai se acumulando aos pouquinhos e com isso a gente vai se adaptando e se acomodando ao novo visual. Um belo dia, a gente entra no provador da loja para experimentar aquele vestido justinho, de alcinha, fresquinho para o verao e quase morre de desgosto quando o danado fica entalado. Nao desce ombro abaixo e nem sobe nos quadris. A imagem desta cena deprimente refletida no espelho do provador tira meu humor. Me deprime.
Anos atras, quando estava no comeco da escalada aumento de peso, quando dizia que precisava perder uns kilinhos, as pessoas respondiam: Imagina, voce esta otima, perder peso porque? Com o passar do tempo, pouco a pouco a reacao das pessoas foi mudando ate que um dia, todos passaram a concordar com a minha afirmacao de que preciso perder peso. Com muito tato claro, ate recebo conselhos e opiniao de dietas que funcionam.
Adoro entrar em lojas para escolher roupas para minha filha que alem de ser jovem, tem corpinho de manequim. O vendedor se aproxima, me olha desconfiado e acusador querendo dizer:Voce esta na secao equivocada . O setor XXL e do outro lado da loja, minha senhora. Eu sou bem mais rapido e falo antes que o ignorante abra a boca: E para minha filha.Sem sequer olhar para os lados, ainda assim, percebo claramente, o ar de alivio na fisionomia do infeliz.
E a questao fotografia? Voce gordinho sabe muito bem como as fotos gritam! Elas nao mentem. Nao adianta culpar o fotografo. Antigamente, eu adorava pousar para as cameras. Hoje fujo delas. Quando nao tenho escapatoria e preciso mesmo ser fotografada, planejo muito bem o angulo, uso os famosos truques de esconder metade do corpo atras de alguem ou de algum objeto, estico o pescoco para diminuir a papada......enfim....e mesmo assim, muitas vezes nada funciona e a unica solucao e o botaozinho "deleate". Bendita a era da camera digital.
Deprimente mesmo e quando para puxar um elogio do marido a gente sai com aquela famosa perguntinha: Voce acha que estou muito gorda? Ele, que nao sabe mentir mas que ao mesmo tempo nao quer magoar ou morre de pavor de dar a resposta errada, solta a famosa frase feita: Para mim, isso nao importa. Tanto faz. Eu amo voce de qualquer jeito. Nao deixa de ser um consolo mas esta bem longe de ser um elogio.
No meu ultimo aniversario ganhei da minha sogra, uma roupa interior que lembra o antigo espartilho. A utilidade e modelar o corpo ou seja, apertar a banha para que a roupa caia melhor. Para um bom entendedor, meia palavra basta.
E os papos de obesidade, exercicio e dieta bem na hora da comida? As pessoas adoram fazer isso nao sei se por prazer, por sacanagem, de proposito ou sem pensar. Finjo que nao ouco, que nao e comigo, que nao me atinge e nao dou o braco a torcer. Continuo saboreando com prazer (mas muita culpa) o delicioso prato de macarrao ao molho alfredo e so de raiva peco tambem, uma deliciosa sobremesa.
Afinal, amanha comeco a dieta.