Wednesday, February 6, 2013

A CARTA

Sou marcada pela experiencia de ter mantido ao longo da vida, relacionamentos a distancia.Talvez seja esse o motivo das cartas terem, para mim, um significado tao romantico e especial.

Fazia muito tempo que eu nao recebia carta pelo correio. Especificamente falando, nem me lembro quando foi a ultima vez. Anos? Decadas?
As cartinhas que recebo hoje sao mensagens curtas enviadas pelo Facebook ou e-mails.  Pelo correio, trazidas pelo carteiro chegam todos os dias muitos envelopes com cartas editadas eletronicamente vendendo produtos e servicos.  Sao cartas de bancos, de partidos politicos vendendo seus peixes, do dentista atencioso lembrando que ja e hora da visita de rotina, do convenio medico tao preocupado com a minha saude, alertando que o mamograma venceu.  Sao cartas desnecessarias e impessoais. Leio com  desinteresse e rapidez. Vao diretamente para o lixo. Reciclavel e claro!

Hoje, para alegrar o meu dia mais um pouquinho, junto com esse amontoado de envelopes frios e inuteis chegou a carta de uma amiga que mora no Havai. Esse envelope branco se destacava dos demais:  Escrito a mao e posso garantir, selado e fechado com a saliva do remetente.

A carta comeca com a saudosa introducao.  "Querida Elda, desejo que esta a encontre em perfeita saude, paz e alegria"
Senti uma certa nostalgia quando terminei de ler. Logo, os sentimentos vividos ligados as cartas comecaram a pipocar na minha lembranca.

Escrever uma carta era um ritual. Tinha todo um preparo: Escolher o papel certo, a cor da tinta da caneta. Era todo um preparo. A gente separava uma hora do dia para elaborar a carta. Elas eram longas, escritas com capricho.  As vezes  demorava  varios dias para serem escritas. Primeiramente fazia-se um rascunho para garantir que o resultado final fosse uma carta limpa, sem erros e rasuras.Depois de passar a limpo o rascunho, as folhas eram dobradas cuidadosamente e meticulosamente. Por fim, dependendo do destinatario nao podia faltar as gotinhas de perfume. Isso quando nao punhamos dentro, fotos e  flores secas.

As cartas traziam a letra e um pouco da alma de quem as escrevia.  Nelas registravamos segredos,  declaracoes de amor, poesias. Elas levavam noticias de todos em casa, dos vizinhos, da cidade. Quantas e quantas vezes as paginas eram molhadas pela emocao, manchadas e marcadas pelas lagrimas que nao podiamos conter.

A espectativa de receber uma carta era enorme! Era uma ansiedade gostosa de sentir. E o grito do carteiro? Carteeeeeeeeiro! O coracao disparava de emocao e de alegria so de imaginar que aquela carta tao esperada pudesse estar dentro daquela bolsa enorme de couro marrom.
Os carteiros eram os mensageiros do amor. Eram os pombos-correios. Se o carteiro nao viesse ou se nao trouxesse "aquela" carta tao esperada, a frustracao e tristeza eram enormes. A espera era longa mas valia a pena esperar dias, semanas interminaveis para receber noticias do namorado, da familia ou de um amigo distante!

Ler as cartas era receber um carinho no coracao, na alma. Eu as lia devagar, com muita calma, no silencio. Saboreava cada letra, degustava cada palavra. Lia, re lia e voltava a ler tantas vezes quanto o tempo e o prazer me permitisse. Sentia o aroma das maos e o perfume da pele de quem escreveu. Depois as guardava cuidadosamente e com carinho em algum lugar muito especial. As cartas eram um pequeno tesouro.